“A Revolução dos Bichos”, de George Orwell: A história atemporal de poder, traição e rebelião

“A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, é uma obra-prima da ficção alegórica que cativa os leitores com seu profundo comentário sobre poder, política e corrupção. Publicada em 1945, a novela apresenta uma narrativa convincente na qual um grupo de animais de fazenda se rebela contra seus opressores humanos para estabelecer uma sociedade utópica. No entanto, à medida que a história se desenrola, Orwell revela habilmente os perigos do totalitarismo e a inevitável corrupção do poder. Com sua relevância duradoura e temas instigantes, “A Revolução dos Bichos” continua a repercutir entre os leitores de todas as gerações.

A Revolução dos Bichos: Enredo e Narrativa

O enredo de “A Revolução dos Bichos” gira em torno da Manor Farm, onde os animais, liderados pelos porcos Snowball e Napoleon, derrubam seu mestre humano, o Sr. Jones, em uma tentativa de obter liberdade e igualdade. Eles estabelecem um sistema conhecido como Animalismo, encapsulado nos Sete Mandamentos, que defendem os direitos e a autonomia de todos os animais. Inicialmente, a fazenda prospera sob os princípios da tomada de decisão coletiva e do trabalho compartilhado.

A narrativa de Orwell se desenrola pela perspectiva do diligente e ingênuo cavalo de carroça, Boxer, e do cético e observador Benjamin, um burro. Por meio de seus olhos, os leitores testemunham a erosão gradual dos ideais dos animais à medida que os porcos consolidam o poder e manipulam os animais menos inteligentes.

Citação de A Revolução dos Bichos, de George Orwell

Alegoria e sátira

“A Revolução dos Bichos” é uma aula magistral de alegoria, com cada personagem e evento representando figuras e eventos históricos específicos. Os animais simbolizam diferentes classes da sociedade soviética, com o Velho Major representando Karl Marx e seus ideais de revolução. Snowball e Napoleon personificam as ideologias conflitantes de Leon Trotsky e Joseph Stalin, respectivamente. A natureza alegórica da história permite que Orwell critique a queda da União Soviética no autoritarismo e a traição dos objetivos originais da revolução.

Além disso, o uso da sátira por Orwell é contundente e incisivo. A jornada dos animais da libertação à tirania serve como uma crítica poderosa dos perigos inerentes aos sistemas políticos movidos pelo interesse próprio e pela manipulação. Ao antropomorfizar os animais e expor suas falhas e vulnerabilidades, Orwell revela de forma inteligente as loucuras humanas que levam ao abuso de poder e à distorção de ideais nobres.

Temas e simbolismo

“A Revolução dos Bichos” aborda vários temas atemporais, o que a torna uma obra literária convincente e duradoura. Um dos temas centrais é a natureza corruptora do poder. À medida que os porcos consolidam sua autoridade, eles exploram os outros animais, reescrevendo os Sete Mandamentos para atender a seus próprios interesses. A transformação dos porcos em seus opressores anteriores reflete o processo insidioso de corrupção que o poder geralmente gera.

O tema da propaganda e da manipulação também é predominante em toda a narrativa. Squealer, o porco eloquente, emprega uma retórica persuasiva para enganar e controlar os outros animais. Sua capacidade de manipular a linguagem e distorcer a verdade reflete as táticas empregadas pelos regimes totalitários para manter o controle do poder.

Orwell emprega um poderoso simbolismo para transmitir seus temas. A fazenda em si representa um microcosmo da sociedade, enquanto o projeto do moinho de vento simboliza os Planos Quinquenais da União Soviética. A luta dos animais para concluir o moinho de vento reflete os desafios enfrentados pelas sociedades que lutam pelo progresso e a exploração do idealismo para obter ganhos pessoais.

Crítica social e política

“A Revolução dos Bichos” é uma crítica contundente ao totalitarismo e ao fracasso das revoluções socialistas. Orwell, que estava desiludido com o desvio dos princípios socialistas da União Soviética, apresenta um conto de advertência sobre o abuso de poder. Ao destacar as falhas e a manipulação da classe dominante, Orwell adverte contra a aceitação cega da autoridade sem questionar seus motivos.

A novela também explora a natureza da luta de classes e da desigualdade. Embora inicialmente unidos contra um inimigo comum, a união dos animais se desintegra à medida que os porcos se estabelecem como uma classe dominante privilegiada. Isso reflete a distribuição desigual de riqueza e poder na sociedade, onde poucos exploram o trabalho e a confiança de muitos para obter ganhos pessoais.

A crítica de Orwell vai além da União Soviética e se aplica a qualquer sistema propenso à corrupção e ao abuso de poder. Sua mensagem ressoa entre os leitores de todas as épocas e regiões geográficas, estimulando a introspecção sobre os mecanismos de poder e a importância da vigilância e do ceticismo.

Ilustração A Revolução dos Bichos, de George Orwell

Citações de “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell

  1. “Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que outros.”
    • Essa famosa citação resume a crítica do romance à estrutura de classes da União Soviética e à traição dos ideais originais da revolução. Ela reflete como os porcos, que representam a classe dominante, corromperam o princípio da igualdade para justificar seus privilégios e manter o controle sobre os outros animais.
  2. “Quatro pernas é bom, duas pernas é ruim”.
    • Inicialmente usado para simplificar os princípios da rebelião dos animais, esse slogan representa a propaganda simplista em preto e branco usada pelos regimes para demonizar o inimigo (nesse caso, os humanos) e unificar a população em uma causa comum. À medida que a história avança, esse mantra é manipulado para se adequar às mudanças de políticas dos porcos governantes, destacando como a propaganda é usada para controlar e manipular as massas.
  3. “As criaturas do lado de fora olhavam do porco para o homem, e do homem para o porco, e do porco para o homem novamente; mas já era impossível dizer qual era qual.”
    • Essa frase final do romance ilustra a traição definitiva dos ideais revolucionários. Os porcos, que lideraram a rebelião contra a opressão humana, tornaram-se indistinguíveis dos humanos que tentaram derrubar. Ela ressalta o tema da natureza cíclica do poder e da corrupção.
  4. “O homem é a única criatura que consome sem produzir.”
    • Dita por Old Major, o javali premiado cuja visão de uma sociedade utópica sem humanos inspira a rebelião, essa citação critica os sistemas capitalistas em que a classe trabalhadora (os animais) trabalha para o benefício da classe ociosa (os humanos). É um chamado às armas para que os animais assumam o controle de seu próprio trabalho.
  5. “Nenhum animal deve matar qualquer outro animal sem motivo.”
    • Essa alteração de um dos Sete Mandamentos do Animalismo para “Nenhum animal deve matar outro animal sem motivo” demonstra como os detentores do poder (os porcos) manipulam as leis para justificar suas ações, inclusive a execução de seus rivais. Isso reflete a influência corruptora do poder e a facilidade com que os ideais revolucionários podem ser pervertidos.
  6. “O leite e as maçãs inesperadas (e também a safra principal de maçãs quando elas amadurecem) devem ser reservados apenas para os porcos.”
    • Esse exemplo inicial dos porcos tomando privilégios para si ilustra o tema da desigualdade e do abuso de poder. Ele mostra como os líderes começam a se elevar acima dos animais comuns, alegando que precisam de mais recursos porque são os “cérebros”.

Fatos curiosos sobre “A Revolução dos Bichos”

  1. Alegoria da Revolução Russa: “A Revolução dos Bichos” é uma alegoria da Revolução Russa de 1917 e dos primeiros anos da União Soviética. Os personagens animais da história representam figuras e grupos importantes da revolução, com o porco Napoleão simbolizando Joseph Stalin, Snowball representando Leon Trotsky e outros animais representando diferentes classes e grupos da sociedade russa.
  2. Dificuldades na publicação: Orwell enfrentou grandes desafios para publicar “A Revolução dos Bichos” devido à sua crítica explícita à URSS, que era aliada do Ocidente durante a Segunda Guerra Mundial quando Orwell escreveu o livro. Os editores tinham receio de prejudicar as relações com a União Soviética, e o manuscrito de Orwell foi rejeitado por várias editoras antes de ser finalmente publicado em 1945, quando a guerra estava terminando.
  3. Prefácio de Orwell sobre censura: Orwell escreveu um prefácio intitulado “The Freedom of the Press” (A liberdade de imprensa), destinado à publicação original de “Animal Farm” (A Revolução dos Bichos), no qual ele discute os perigos da autocensura em uma cultura do medo. Esse prefácio não foi incluído na primeira edição e permaneceu inédito até a década de 1970.
  4. Alterações no título: O título original que Orwell tinha em mente era “Animal Farm: Uma História de Fadas”. No entanto, o subtítulo foi abandonado na edição americana e em muitas edições subsequentes, embora tenha permanecido em algumas edições britânicas. A escolha de “A Fairy Story” (Uma história de fadas) destacou a natureza alegórica e simbólica do conto.
  5. Envolvimento da CIA: Na década de 1950, a CIA comprou secretamente os direitos de filmagem de “A Revolução dos Bichos” como parte de uma ofensiva cultural durante a Guerra Fria. Eles financiaram a adaptação britânica do filme de animação de 1954, garantindo que terminasse com uma mensagem anticomunista mais forte do que a obra original de Orwell.
  6. Temas universais: Apesar de sua alegoria específica à União Soviética, “A Revolução dos Bichos” explora temas universais de poder, corrupção e traição. Ele ilustra como os ideais podem ser corrompidos por aqueles que estão no poder, uma mensagem que ressoou em vários contextos políticos desde sua publicação.
  7. Influência e legado: “A Revolução dos Bichos” tornou-se uma obra clássica de sátira política, ensinada em escolas de todo o mundo como uma introdução à alegoria, à sátira e à discussão sobre poder e governança. Suas frases “Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que outros” e “Quatro pernas boas, duas pernas ruins” entraram para o léxico público como uma abreviação da hipocrisia dos governos e da perversão dos ideais revolucionários.
  8. Adaptações e referências culturais: Além de sua adaptação pela CIA, “A Revolução dos Bichos” foi adaptado para peças de rádio, uma peça de teatro e outro filme de animação em 1999. Também influenciou inúmeras obras de literatura, cinema e música, demonstrando seu impacto duradouro na cultura global.

Conclusão A Revolução dos Bichos

“A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, é uma joia literária que continua a cativar os leitores com seu brilhantismo alegórico e sua crítica social contundente. Por meio da história de um grupo de animais de fazenda, Orwell expõe com maestria as armadilhas do poder, a influência corruptora da autoridade e os perigos da manipulação e da propaganda. Como uma obra literária atemporal, “A Revolução dos Bichos” nos incita a permanecer vigilantes, questionar a autoridade e lutar pela verdadeira igualdade e justiça. A capacidade de Orwell de entrelaçar comentários políticos com uma narrativa envolvente faz dessa novela uma leitura obrigatória para qualquer pessoa que esteja buscando uma visão das complexidades da natureza humana e da busca pelo poder.

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