O legado do Romantismo – Do Iluminismo ao Modernismo

O Romantismo foi um movimento cultural e literário ocorrido na Europa no final do século XVIII e início do século XIX. Marcou uma mudança profunda na expressão artística, no pensamento filosófico e na compreensão da condição humana. O Romantismo reagiu contra o racionalismo iluminista e as transformações industriais. Defendia a emoção, a individualidade e a beleza sublime da natureza.

Este movimento reformulou a literatura e teve impacto na música, nas artes visuais e na filosofia. Influenciou gerações e movimentos sucessivos. Para apreciar a profundidade do Romantismo, é necessário explorar o seu contexto histórico e as suas principais características. Compreender o seu legado, incluindo os seus precursores e sucessores, é também essencial.

O Romantismo não surgiu no vazio. Foi, em muitos aspectos, uma resposta ao Iluminismo, um período caracterizado por uma ênfase na razão, na investigação científica e na crença no progresso humano através do conhecimento. A ênfase do Iluminismo na racionalidade e na ordem lançou as bases para avanços dramáticos na ciência, na filosofia e na governação, mas também desencadeou um contra-movimento. As tumultuosas mudanças sociais provocadas pela Revolução Industrial, juntamente com convulsões políticas como a Revolução Francesa, criaram um sentimento de desilusão em relação à razão como único guia para os assuntos humanos.

Ilustração para o romantismo

O coração do Romantismo

O movimento romântico, que floresceu primeiro na Alemanha e na Grã-Bretanha antes de se espalhar por toda a Europa e não só, procurou recuperar a importância da emoção, da intuição e do mundo natural. A literatura e a arte românticas estavam impregnadas de um profundo apreço pela beleza indomável da natureza, vista como uma fonte de inspiração, consolo e renovação espiritual num contexto de industrialização e urbanização. Os escritores e artistas desta época voltaram o seu olhar para o interior, explorando as profundezas da psique humana, a experiência individual e a imaginação criativa.

Principais características do Romantismo

  • Ênfase na emoção e no individualismo: A literatura romântica dá frequentemente prioridade à emoção em detrimento da razão, centrando-se nos sentimentos e experiências individuais e na interpretação subjectiva do mundo. Esta ênfase na emoção é uma resposta à ênfase do Iluminismo na racionalidade e na lógica.
  • Glorificação da Natureza: Os escritores românticos viam a natureza como uma fonte de beleza, inspiração e até mesmo de orientação espiritual e moral. Muitas vezes, retratavam a natureza sob uma luz idealizada, por vezes mística, contrastando a sua pureza e beleza com a corrupção da sociedade e do mundo industrializado.
  • Foco no exótico e no misterioso: A literatura romântica explora frequentemente locais exóticos, o sobrenatural e o misterioso. Deleita-se com o desconhecido e o invulgar, incorporando frequentemente elementos de fantasia e folclore.
  • Interesse pelo passado: Muitos escritores românticos eram fascinados pelo passado, especialmente o período medieval e outras épocas consideradas mais nobres ou puras em comparação com o presente. Este interesse reflecte-se nos temas, cenários e personagens da literatura romântica.
  • Idealização do herói e do indivíduo: O Romantismo celebra o indivíduo, especialmente a figura do herói ou do génio que desafia as normas e convenções sociais. Este herói luta frequentemente contra a sociedade ou a natureza em busca da liberdade pessoal e da expressão artística.
  • Inovação em formas e técnicas literárias: Os escritores românticos fizeram experiências com novas formas e técnicas literárias, incluindo o romance, o poema lírico e o conto gótico. Procuraram exprimir as suas visões de uma forma que rompesse com as tradições clássicas, privilegiando a voz pessoal e estruturas inovadoras.

Conheça as mentes por trás do romantismo

O movimento romântico, que floresceu entre o final do século XVIII e meados do século XIX, deu origem a uma riqueza de talentos literários e artísticos. As suas figuras, diversas nos seus estilos e temas, partilhavam ideais comuns como a primazia da emoção individual, a beleza sublime da natureza e um fascínio pelo gótico e pelo místico. Apresentamos de seguida algumas das figuras mais proeminentes do movimento romântico, cada uma contribuindo de forma única para a sua rica tapeçaria.

William Wordsworth (1770-1850) – Inglaterra: Wordsworth é muitas vezes considerado como o poeta romântico por excelência, enfatizando a beleza e o valor espiritual da natureza. A sua colaboração com Samuel Taylor Coleridge, “Lyrical Ballads” (1798), é considerada uma obra seminal do Romantismo inglês. Introduz a ideia de que a poesia deve ser escrita na linguagem do homem comum e centrar-se na beleza e na profundidade moral do mundo natural.

Lord Byron (George Gordon Byron, 1788-1824) – Inglaterra: Byron foi a personificação do “herói byroniano” – taciturno, apaixonado e desafiador. As suas obras, incluindo “A Peregrinação de Childe Harold” e “Don Juan”, reflectem a sua vida tumultuosa e um profundo sentimento de melancolia. A influência de Byron estendeu-se para além da literatura. Tornou-se uma figura de importância política e social, participando nomeadamente na Guerra da Independência da Grécia.

John Keats (1795-1821) – Inglaterra: Keats, conhecido pelas suas imagens sensuais e reflexões profundas sobre a beleza e a mortalidade, escreveu alguns dos poemas mais amados da era romântica, incluindo “Ode a um rouxinol” e “To Autumn”. O seu conceito de “capacidade negativa” – a capacidade de abraçar a incerteza e a beleza sem procurar uma explicação racional – continua a ser influente.

Rebeldes românticos: os ícones que redefiniram a arte

Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) – Alemanha: Goethe foi uma figura imponente da literatura alemã, cujas obras abrangem a poesia, o drama e o romance. A sua obra Os Sofrimentos do Jovem Werther desencadeou o movimento Sturm und Drang, precursor do Romantismo, enquanto “Fausto” explorou temas como o desejo, o conhecimento e a redenção, reflectindo a complexidade e a profundidade da experiência humana.

Friedrich Schiller (1759-1805) – Alemanha: Schiller, dramaturgo, poeta e filósofo, colaborou estreitamente com Goethe. Os seus dramas, como Os Bandoleiros e Guilherme Tell, e poemas como “Ode à Alegria” (adaptada por Beethoven na sua Nona Sinfonia), enfatizam a liberdade, a luta contra a opressão e a beleza do espírito humano.

Victor Hugo (1802-1885) – França: Hugo foi uma das principais figuras do Romantismo francês, conhecido pelos seus romances Os Miseráveis e O Corcunda de Notre-Dame. A sua obra combina uma profunda crítica social com cenários ricos em pormenores e personagens complexas.

Alexandre Dumas (1802-1870) – France: Alexandre Dumas é um dos mais prolíficos e amados escritores franceses, conhecido pelos seus romances de aventura que captaram a imaginação de leitores de todo o mundo.

As suas obras mais famosas incluem Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo. Estes romances não são apenas histórias de aventuras. Exploram a lealdade, a honra, a traição e a vingança. Mostram a complexidade do espírito humano.

Alexander Pushkin (1799-1837) – Rússia: Alexander Pushkin, um escritor russo, viveu de 1799 a 1837. O seu romance em verso, “Eugene Onegin”, e o drama “Boris Godunov” misturam a ênfase do Romantismo na emoção individual e no heroísmo.

Romantismo como um movimento literário

Obras literárias mais famosas

Entretanto, o movimento do Romantismo produziu algumas das obras literárias mais duradouras e célebres. Estas obras, marcadas por uma ênfase na emoção e na experiência individual, deixaram uma marca indelével na paisagem literária. Aqui estão 15 das obras mais famosas do Romantismo:

  1. Orgulho e Preconceito” de Jane Austen (1813). Embora Austen não seja tipicamente classificada como uma romântica no sentido estrito. Os seus romances incorporam os valores da era romântica e as complexidades da emoção individual e da crítica social.
  2. “Frankenstein” de Mary Shelley (1818). O romance de Shelley explora temas como a ambição, a natureza humana e o sublime.
  3. “Childe Harold’s Pilgrimage” de Lord Byron (1812-1818). Este longo poema narrativo reflecte a desilusão e o desejo de viajar.
  4. “Faust” de Goethe (Parte 1, 1808; Parte 2, 1832). A obra dramática de Goethe aborda temas como o desejo, o conhecimento e a metafísica.
  5. “As Sofrimentos do Jovem Werther”, de Johann Wolfgang von Goethe (1774). A exploração deste romance sobre o amor não correspondido. E a agitação emocional do seu protagonista tiveram um profundo impacto na sensibilidade romântica em toda a Europa.
  6. “Os Miseráveis” de Victor Hugo (1862). O romance épico de Hugo encarna os ideais românticos de justiça social e humanismo.
  7. “O Monte dos Vendavais” de Emily Brontë (1847). O único romance de Brontë, explora emoções intensas e as paisagens selvagens dos pântanos de Yorkshire.
  8. “Jane Eyre” de Charlotte Brontë (1847). Explora temas de moralidade e a luta pela autonomia numa sociedade rígida.
  9. “The Prelude” de William Wordsworth (1850, póstumo). Poema autobiográfico de Wordsworth, explora o desenvolvimento da sua própria mente e filosofia poética.
  10. “Rob Roy” de Sir Walter Scott (1817). O romance histórico de Scott mistura aventura, história e romance.

Sucessores e o legado – Modernismo

O espírito do Romantismo influenciou o desenvolvimento de movimentos literários e artísticos posteriores. Isto inclui, sem dúvida, o Realismo, que surgiu como reação à idealização e ao emocionalismo do Romantismo. O Realismo concentrou-se em retratar a vida quotidiana e a sociedade com fidelidade, evitando a ênfase romântica na emoção e na perceção individual. No entanto, a tocha do Romantismo foi levada até ao final do século XIX e início do século XX pelos Simbolistas.

Mais tarde, os modernistas continuaram a explorar as complexidades da consciência humana e a rutura com as formas e estruturas tradicionais.

O Romantismo dá ênfase à experiência individual e valoriza o estrangeiro. Procura a transcendência através da arte, prefigurando a filosofia existencialista. Este movimento influenciou muitos movimentos contemporâneos, afirmando o seu legado duradouro.

A celebração romântica da natureza e a crítica da industrialização ecoam nos movimentos ambientais modernos. Isto realça a relevância do Romantismo para as questões actuais.

O Romantismo marca um ponto de viragem crucial na literatura e nas artes. Assinala uma mudança profunda na forma como a humanidade se percepciona a si própria, o mundo natural e a arte. Ao defender a emoção, o individualismo e a beleza sublime da natureza, o Romantismo contrariou o racionalismo do Iluminismo e os descontentamentos da era industrial.

O seu legado, visível nos movimentos que inspirou e no fascínio contínuo pelos seus temas, sublinha a procura de significado por parte da humanidade. Em geral, trata-se de beleza e liberdade num mundo em constante mudança.

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